Apesar de apenas 20% das empresas de mobiliário estar numa fase avançada da indústria 4.0, setor tem vindo a ganhar dinamismo e a reforçar-se lá fora
Porto, Portugal
09/11/2019
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Joaquim Carneiro alerta, contudo, para o facto de, apesar de existir no setor uma boa combinação entre as últimas tecnologias e os saberes tradicionais, apenas 20% das empresas estarem numa fase adiantada da Indústria 4.0. “Temos instalados os melhores equipamentos, mas, devido à dimensão das nossas empresas – maioritariamente PME -, não temos uma mass production, mas sim uma mass costumization, e é aí que está a nossa vantagem competitiva”, afirma o responsável da APIMA para quem o facto de este ser um setor “pulverizado por PME”, facilitar a adaptação a esta nova revolução. Como forma de apoiar as empresas na transição para uma lógica 4.0, a APIMA elaborou um manual de implementação Lean e Indústria 4.0. “É uma ferramenta que facilitará o autodiagnóstico e o processo de implementação nas empresas, que passam a dispor de um guião com as melhores práticas.” Já Vítor Poças alerta para a necessidade de captação de recursos humanos bem capacitados para fazer face à nova realidade. “Não podemos andar com o carro à frente dos bois porque corremos o risco de estarmos bastante avançados tecnologicamente e não termos recursos humanos devidamente preparados para essa nova tipologia de indústria, mais tecnológica, digital e robotizada”, afirma o responsável da AIMMP, associação que, juntamente com a Confederação Europeia da Indústria de Madeira, lançou um seminário internacional que tem como um dos objetivos melhorar a imagem e atratividade do setor como forma de captação e retenção de talentos para a indústria 4.0. “Se conseguirmos ter recursos humanos capazes, um design capaz, a ligação entre a conceção e a produção e uma produção mais automatizada e robotizada, começamos a ter uma estrutura muito forte neste caminho da indústria 4.0”, admite.
A Nautilus, empresa nacional especializada em mobiliário inteligente, é um bom exemplo da importância da tecnologia e desenvolvimento de produto. Fundada há 23 anos, a empresa evoluiu com o salto tecnológico dado em 2004. “Criámos um núcleo interno, com uma equipa de engenheiros e designers para apostar no desenvolvimento de novos produtos e inovar nos atuais com a integração das novas tecnologias para a educação”, explica Vítor Barbosa, CEO da Nautilus. O esforço deu frutos com produtos-bandeira como uma mesa e um quadro interativos a serem premiados a nível internacional.
Há dois aspetos que nos diferenciam: o mobiliário inteligente, que é a nossa assinatura, e a evolução dos processos de produção, nomeadamente a injeção de polímeros que nos permite ter “produtos que respondem aos princípios da economia circular, uma vez que se trata de produtos reciclados”, afirma o responsável da empresa que exporta 60% da produção. “O desafio para a Nautilus é permanente e consiste em tentar antecipar as necessidades dos clientes. Qualquer empresa que consiga antecipar essas necessidades e criar as soluções vai estar sempre no pelotão da frente”, garante.
A Movecho, empresa com 30 anos, apostou há mais de uma década na digitalização do processo de fabrico. “Foi em 2013 que foi feita a interligação das máquinas com o nosso ERP, com a aquisição do nosso primeiro armazém de placas robotizado em 2013. Foi o início de uma reestruturação/reorganização cultural a todos os níveis, que apelidámos de desassossego 4.0”, recorda Luís Abrantes, administrador. Hoje, todo o processo de transformação e preparação de componentes da Movecho está interligado. “As mudanças foram feitas essencialmente ao nível dos equipamentos que foram customizados de acordo com a nossa estratégia e necessidades”, explica Luís Abrantes, que destaca os ganhos de produtividade conseguidos, a par de uma maior sustentabilidade.